11 de outubro de 2010

Além dos rótulos



Há duas semanas atrás, ouvi falar, com muito entusiasmo,sobre o Hospital Espírita João Evangelista (SP), cuja proposta busca integrar religião, espiritualidade e saúde, durante a palestra do psiquiatra, Dr. Franklin Ribeiro,sobre "Morte Clínica e Experiência de Quase Morte".

Lá o paciente é visto como um todo. A sua história de vida importa. Importa saber QUEM É o "seu Zé", além do que ele apresenta como doença. Sua religião é respeitada como meio de auxílio ao paciente. Desta forma buscam saber dele se deseja a visita do padre, pastor, rabino...se ora, reza, faz prece. A religião, muitas vezes, rotula ritos, dogmas,credos, tabus. Quando falamos em espiritualidade, devemos pensar na subjetiva experiência com o sagrado. Rudolf Otto (teólogo alemão) disse que " a experiência do sagrado é a experiência do contato numinoso ( numene= divindade)".

A espiritualidade é o caminho da transcedência, assim como ver o paciente como alguém que SENTE, ACREDITA e se conecta a um SER MAIOR parece transcender ao paradigma materialista que tanto vemos e que faz da medicina um ramo compartimentalizado.

Ao saber que existem muitos estudos, propostas e práticas de uma medicina mais humana, meu coração se encheu de alegria. Sei que é uma gota no oceano, MAS já é algo!

Lembrei do trabalho que fiz, como fonoaudióloga, em um asilo. A prática que vivenciei com minhas alunas foi essa. O que importava, inicialmente, era VER, PERCEBER, chamar pelo NOME, ouvir as histórias daqueles de quem iríamos CUIDAR.

A experiência de quase morte que nossos pacientes tinham era bem diferente da EQM tratada pelo Dr Franklin em que os indivíduos referem uma experiência profunda de transcender o mundo físico, experiência essa que , freqüentemente, conduz os mesmos a uma transformação espiritual.

A experiência de quase morte (EQM) que tivemos contato podia se traduzir em uma palavra : ABANDONO.

De forma intuitiva, certamente guiadas por nossos mentores (ou anjos, como queiram), trilhamos o caminho que nos levou a conquista do respeito e confiança deles o que favoreceu ao êxito da nossa proposta terapêutica.

Tive uma aluna evangélica que fez um comovente trabalho ao interagir com uma senhora católica (daquelas fervorosas com o quartinho cheio de imagens)que sempre pedia para rezarem juntas, durante a sessão. A linguagem dessa senhora foi exercitada, entre outras atividades, através de leituras de orações católicas.

Quando o coração se abre ao divino, não há espaço para segregar. Quando nos permitimos,as "diferenças" somem. Quanto mais humildes, mais libertos somos.

"Vale a pena lembrar que, embora haja uma vasta diferença entre nós no que diz respeito aos fragmentos que conhecemos, somos todos iguais no infinito da nossa ignorância." (Karl Popper)

Semana de luz e paz para todos!


Aline Caldas 

4 comentários:

  1. Simplesmente DIVINO este POST.
    DIVINO por ser DEUS ASSIM, UNO, independente de nossas escolhas religiosas.
    AMO VC!

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  2. Confesso que me transportei no tempo,as lágrimas insistiram em rolar em minha face...recordando as vivências inesquecíveis do Lar de idosos. Realmente vc é ÚNICA. Que poder em emocionar, parabéns pela seleção de palavras advindas do fundo da alma! Beijos em concordância plena com o post!

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  3. Você me deixou sem palavras.
    Só posso agradecer a Deus por tudo que li e pelo que me tocou na alma. Quando entendemos que o amor é que nos guia conseguimos fazer o melhor. Sempre.

    Beijos

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  4. Começo repetindo o seguinte trecho:"Vale a pena lembrar que, embora haja uma vasta diferença entre nós no que diz respeito aos fragmentos que conhecemos, somos todos iguais no infinito da nossa ignorância". Porque somos todos filhos e filhas de Deus, seja qual for a crença. Exemplo disso é a nossa amizade, que em meio as nossas diferenças religiosas, nos encontramos através do AMOR de uma linda amizade. Amo vc amiga

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